História da Capoeira

Portugal importava escravos negros desde 1443. Foi o primeiro país da Europa a desenvolver, nos tempos modernos, o comércio de escravos. Isto foi possível em conseqüência de seu domínio sobre as terra da África. Tal comércio rendia grandes lucros aos traficantes.
Com a implantação e o desenvolvimento da atividade açucareira no Brasil, surgiu a necessidade de braços para trabalhar na lavoura. A princípio, os colonizadores utilizavam-se dos índios, mas a sua escravização trazia alguns inconvenientes, pois eles, vivendo em constantes lutas, pertubavam os planos do colonizador. Por isso, foram sendo eliminados. A solução, então, foi implantar no Brasil o tráfico negreiro, que já era utilizado nas colônias espanholas da América. Um grande comércio foi reorganizado para atender as necessidades dos senhores de engenho. Este comércio, ao contrário da escravização do índio, proporcionava enormes lucros à Coroa portuguesa. Por esta razão, foi grandemente estimulado.
Segundo as mais corretas estimativas, de 1568 a 1859, o tráfico negreiro foi responsável pela introdução no Brasil de um total de , aproximadamente, 3600000 escravos. Estes negros pertenciam principalmente a dois grupos africanos:

• Bantos: tribos negras do sul da África, geralmente de Angola e Moçambique, que era trazidas principalmente para Pernambuco e Rio de Janeiro:;
• Sudaneses: tribos negras de Daomé, Nigéria e Guiné, que foram trazidas principalmente para a Bahia. Tinham um nível de conhecimento agrícola mais elevado que o dos bantos.
      O transporte dos escravos saidos da África era realizado pelos navios negreiros. Os negros eram colocados nos porões destes navios, onde o espaço era insuficiente, o ambiente escuro e o calor insuportável. Não havia ar livre para se respirar. Além disso, a água era suja e faltava alimento. Durante as horríveis viagens morriam de 20 a 40% dos negros, em razão dos maus tratos recebidos e das péssimas condições de transporte. Por isso, em Angola, esses navios eram chamados de tumbeiros, palavra relativa a tumba ou sepultura.
      Um duro trabalho era reservado aos negros que conseguiam sobreviver às cruéis viagens. Chegando ao Brasil, eles eram vendidos no mercados de escravos e algum tempo depois já estavam trabalhando para os seus proprietários, à base de chicote. Realizavam os mais diversos tipos de atividades nas casas, na lavoura, na mineração.
      Embora os escravos possuíssem admirável resistência física o excesso de trabalho e os maus tratos recebidos acabavam lhes afetando, rapidamente, o estado de saúde. Por esta razão, a média de vida dos escravos não ultrapassava 25 anos. Para os proprietários, a morte de um escravo significava, apenas, a perda de uma mercadoria. O seu problema se resolvia com a compra de outro escravo.



ASPECTOS HISTÓRICOS DA CAPOEIRA
      Há uma grande controvérsia em torno da história da capoeira sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu surgimento, provavelmente no século XVII e o século XIX, quando aparecem registros confiáveis, com descrições detalhadas da luta.
       A discussão é interminável: pesquisadores, folcloristas e africanistas ainda     buscam resposta para seguinte questão: a capoeira é uma invenção africana ou brasileira? Teria sido uma criação do escravo com sede de liberdade? Ou uma invenção do indígena?
      As opiniões tendem para o lado brasileiro e aqui vão alguns exemplos: no livro a Arte da Gramática da  língua mais usada na costa do Brasil, do padre José de Anchieta, editada em 1595, há uma citação de que “os índios tupi-guaraní divertiam-se jogando capoeira”. Guilherme de Almeida, no livro Música do Brasil, sustenta serem indígenas as raízes da capoeira. O navegador português, Martim Afonso de Souza observou tribos jogando capoeira. Como se não bastasse, a palavra capoeira (caápuêra) é um vocabulário tupí-guaraní que significa “mato ralo” ou “mato que foi cortado”.
       Também o estudioso Waldeloir do Rego, que escreveu o que foi considerado o melhor trabalho sobre este jogo, defende a te­se de que a capoeira foi inventada no Brasil. Brasil Gerson, historiador das ruas do Rio de Janeiro, acha que o jogo nasceu no mercado, quando os escravos chegavam com o cesto (capoeira) de aves na cabeça é até serem atendidos, ficavam brincando de lutar, surgindo daí a verdadeira capoeira. Por fim, câmara cascudo afirma “ter sido trazida pelos Banto-congo-Angoleses que praticavam danças litúrgicas ao som de instrumentos de percussão”,  transformando-se em luta aqui no Brasil.
      Muito embora seja suficientemente esclarecido que a capoeira é uma luta surgida no Brasil, é preciso considerá-la como parte da dinâmica constante da cultura afro-brasileira. Assim, a capoeira surgiu de um conjunto de aspectos pré existente nas culturas das comunidades africanas (rituais, danças, jogos, cultura musical etc).
É assim que devemos compreender a questão a capoeira sur­giu no Brasil como luta de resistência de uma comunidade que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra de origem e que precisou desenvolver um conjunto de técnicas de ataque e defesa em virtude da situação de opressão em que vivia durante a escravidão. Aliás, devemos considerar que a capoeira faz parte de todo um processo de resistência dos negros no Brasil, que também se expressou na religião, na arte, na cultura, na culinária etc.
      Em outras palavras: era necessário aos negros não só permaneceram vivos e lutarem pela sua liberdade era preciso também preservar aspectos de sua cultura ancestral.  Iê Viva a Raça Negra camará!